Lento atravessa o largo da feira
A custo arrasta a perna manca
As botas rotas cobertas de poeira
Rosto moreno farta cabeleira branca
Às costas uma velha caixa transporta
Carregado em esforço e na expressão
A saca de sarja o ombro suporta
vagaroso segue caminho de cajado na mão
A velha amoreira é o seu destino
E a sombra fresca da sua imponência
No banco de pedra que conhece desde menino
Descança o curvo corpo sua excelência
Ao pregão dos comerciantes tendeiros
O povo atraído vai-se chegando
Em algazarra reclamam os regateiros
Um justo preço vão negociando
O velho aproveita a clientela
E apruma-se por detrás do realejo
Subtil move a gasta manivela
No rolo as figuras desfilam em cortejo
A música soa em notas afinadas
O chapéu vazio aguarda no chão
O som deixa as gentes enfeitiçadas
No tilintar vai juntando para o pão
Editado por Barão Van Blogh .